Para pensar ação em educomunicação

Por Mariana Necchi

A relação entre a educação e a comunicação é um processo originado no território latino-americano a partir da década de 60 e que surgiu como uma forma de resistência à invasão cultural de dominação imperialista, primeiro dos países europeus e, mais tarde, dos Estados Unidos. Mario Kaplún na comunicação e Paulo Freire na educação juntaram as áreas convergentes para dar início ao movimento de autonomia e libertação cognitiva na América Latina e partir dessa conjunção surgem transformações e mudanças sociais, assim como a democratização da informação, da cultura e do conhecimento para a construção de uma sociedade que tenha a cidadania como principal fundamento.

A educomunicação caminha de maneira próxima à comunicação cidadã. Por isso, podemos dizer que um processo educomunicacional e cidadão assumem o mesmo objetivo, ou seja, desenvolver a cidadania a partir de práticas comunicacionais, sejam elas educacionais e/ou informativas; onde os sujeitos comunicantes, além de serem partícipes dos processos, também reconhecem/desenvolvem suas identidades culturais, produção de sentido e de espaços, debates e exercícios relacionados à cidadania, problemáticas sociais da realidade sociológicas, econômicas, políticas, culturais nas quais estão inseridos, movimentação reflexiva e críticas através da comunicação. Logo, nessa configuração, temos o conceito de educomunicação comunitária.

Lívia Saggin, doutora em Ciências da Comunicação, em uma conversa para o grupo de pesquisa Processocom (para assistir o vídeo na íntegra, clique aqui: https://bit.ly/34C9b1y), define a educomunicação comunitária em quatro pilares: Participação efetiva dos sujeitos comunicantes; Autogerenciada/autogerida por estes sujeitos e comunidades; Promotora e condutora de uma educação e comunicação transformadora; Um espaço importante para o desenvolvimento da cidadania.

É nesse sentido que os processos de educomunicação comunitária correspondem e se apropriam da evolução das novas tecnologias da informação, assim como a popularização e democratização ao acesso para criar e desenvolver como meio de expressão e mobilização social, através da conscientização das classes subalternas ao direito à comunicação de forma plena e intrínseca. Essa área de ação comunicativa, dentro do campo transmetodológico e transdisciplinar, propõe que a comunicação e todos os seus processos sejam moldados e experienciados pelos próprios sujeitos comunicantes, visto que é dessa forma que ela passa ser produzida de forma reflexiva e crítica. É nesse movimento de construção comunicacional que se avista, portanto, a constituição de práticas de cidadania comunicativa.

Com as palavras de Paulo Freire: “A educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” e com as de Mario Kaplún: “Comunicar é uma aptidão, uma capacidade. Mas é, sobretudo, uma atitude. Suponha que estamos dispostos a comunicar, cultivar em nós a vontade de entrar em comunicação com nossos interlocutores. Nosso destinatário tem seus interesses, suas preocupações, suas necessidades, suas expectativas (…)” que se deve articular por processos comunicacionais como uma ferramenta de transição social, que dialogue com a cultura de povos, amplie o exercício da cidadania para a construção de novos modos de ser e agir sobre o mundo, com e sobre a mídia e o ser com os outros.

Texto livre escrito por Mariana Necchi.

Fontes:

FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação? São Paulo: Paz e Terra, 1977.

KAPLÚN, Mário. El comunicador popular. Equador: Ediciones CIESPAL, 1985.

MALDONADO, Alberto Efendy. Perspectivas transmetodológicas na pesquisa de sujeitos comunicantes em processos de receptividade comunicativa. Panorâmica da investigação em comunicação no Brasil. Salamanca, Espanha: Comunicación Social y Publicaciones.  

SAGGIN, Lívia Freo. Educomunicação, mídias digitais e cidadania: Apropriações de oficinas educomunicativas por jovens da vila Diehl na produção do blog Semeando Ideias. 2016.

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